O Novo Cangaço: História, Táticas e Impacto nas Cidades Brasileiras do Interior
O Novo Cangaço é uma modalidade criminosa que tem se destacado no Brasil desde o final dos anos 1990. Caracterizado por ações violentas e organizadas, esse tipo de crime envolve quadrilhas fortemente armadas que invadem cidades pequenas e médias, sitiam áreas urbanas e atacam instituições financeiras, causando terror generalizado. Inspirado no cangaço tradicional liderado por Lampião no início do século XX, o termo reflete tanto a brutalidade quanto o impacto social dessas ações, mas com uma abordagem moderna e profissionalizada.
Origem do Termo e Contexto Histórico
O termo Novo Cangaço foi cunhado nos anos 1990 para descrever assaltos realizados em cidades do sertão nordestino. Assim como os cangaceiros históricos, os criminosos modernos utilizam violência extrema para alcançar seus objetivos. A expressão faz referência ao cangaço tradicional, movimento de banditismo social que ocorreu entre o final do século XIX e início do século XX no Nordeste brasileiro. Liderados por figuras como Lampião e Maria Bonita, os cangaceiros eram conhecidos por sua resistência ao poder coronelista e pelo uso de táticas de guerrilha.
No entanto, enquanto o cangaço histórico tinha elementos de revolta social contra as desigualdades da época, o Novo Cangaço é motivado principalmente por interesses financeiros. As quadrilhas modernas têm como foco principal o roubo de bancos, carros-fortes e transportadoras de valores, utilizando armamento pesado e estratégias sofisticadas.
Evolução do Novo Cangaço
Desde sua origem no Nordeste brasileiro, o Novo Cangaço se expandiu para outras regiões do país. Hoje, ataques desse tipo são registrados em estados das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. A profissionalização das quadrilhas inclui planejamento detalhado das ações, uso de tecnologia avançada e integração interestadual dos grupos criminosos.
Um dos primeiros líderes desse movimento foi Valdetário Carneiro, figura emblemática que comandou dezenas de ações cinematográficas no Rio Grande do Norte. Valdetário foi morto em 2003 durante um confronto com a polícia, mas suas táticas continuam sendo replicadas por grupos criminosos em todo o Brasil.
Táticas Utilizadas pelo Novo Cangaço
As ações do Novo Cangaço possuem características específicas que as diferenciam de outros tipos de crimes organizados:
1. Bloqueio de Vias
Os criminosos fecham os acessos à cidade utilizando veículos incendiados ou barricadas para impedir a chegada de reforços policiais. Um exemplo notável ocorreu em Araçatuba, interior de São Paulo, em 2021, quando caminhões foram queimados para bloquear as principais rodovias.
2. Uso de Reféns como Escudo Humano
Uma prática comum é fazer reféns e usá-los como escudos humanos durante a fuga. Em Criciúma, Santa Catarina, cidadãos foram amarrados aos carros dos criminosos para evitar perseguições policiais.
3. Derrubar Energia Elétrica
Para dificultar a comunicação entre as forças policiais e criar caos na cidade alvo, os criminosos frequentemente derrubam a energia elétrica local. Um exemplo ocorreu em Colmeia, Tocantins, onde transformadores foram atingidos por tiros durante um ataque.
4. Arsenal Pesado
As quadrilhas utilizam armamento sofisticado, incluindo fuzis automáticos, granadas e explosivos com acionamento remoto. Em alguns casos extremos, armas capazes de abater aeronaves foram utilizadas.
5. Planejamento Estratégico
As ações são meticulosamente planejadas com reconhecimento prévio do local, estudo das forças policiais locais e definição de rotas de fuga. Essa estratégia foi observada em ataques recentes em Cametá, Pará, onde os criminosos demonstraram alto nível de organização.
Impacto nas Comunidades
Os ataques do Novo Cangaço deixam marcas profundas nas cidades afetadas:
- Psicológico: O terror causado pelas explosões e tiroteios afeta diretamente a sensação de segurança da população.
- Econômico: Bancos danificados precisam fechar temporariamente suas portas para reparos, prejudicando comerciantes locais que dependem dessas instituições financeiras.
- Estrutural: Além dos danos às agências bancárias, prédios públicos e veículos são destruídos durante as ações.
Casos Notáveis
Araçatuba (SP) - 2021
O ataque em Araçatuba foi um dos mais emblemáticos da história recente do Novo Cangaço. Com uso de explosivos remotos e bloqueio total da cidade, os criminosos roubaram milhões em dinheiro enquanto aterrorizavam a população local.
Criciúma (SC) - 2020
Em Criciúma, dezenas de criminosos invadiram a cidade com carros blindados e armamento pesado. O episódio ficou marcado pelo uso de reféns como escudo humano e pela magnitude da operação criminosa.
Cametá (PA) - 2020
Outro ataque significativo ocorreu em Cametá, onde os assaltantes seguiram um padrão semelhante ao observado em Criciúma. Embora tenham fugido sem capturas imediatas, o impacto psicológico na população foi devastador.
Confresa (MT) - Data Indefinida
Em Confresa, no estado do Mato Grosso, após um assalto bancário bem-sucedido, os criminosos invadiram uma fazenda próxima para se esconderem antes da fuga definitiva.
Críticas ao Termo "Novo Cangaço"
Embora amplamente utilizado pela mídia e forças policiais, o termo Novo Cangaço enfrenta críticas por parte de especialistas que consideram inadequada a comparação entre os cangaceiros históricos e as quadrilhas modernas. Segundo o jornalista Válter Xéu:
“Essa bandidagem atual não se inspirou no cangaço histórico; provavelmente nem sabe do que se trata. O que eles querem é dinheiro para comprar drogas e armas.”
Essa crítica destaca a desconexão entre os elementos históricos do cangaço tradicional e as motivações puramente financeiras das quadrilhas contemporâneas.
Conclusão
O Novo Cangaço representa um desafio significativo para a segurança pública no Brasil. Combinando violência extrema com planejamento estratégico sofisticado, essas quadrilhas continuam a aterrorizar cidades pequenas e médias em todo o país. Para enfrentar esse fenômeno, é necessário investir em inteligência policial, reforçar guarnições locais e desenvolver tecnologias avançadas de segurança.
Embora inspirado pelo passado histórico dos cangaceiros nordestinos, o Novo Cangaço é uma ameaça moderna que exige respostas igualmente inovadoras para proteger comunidades vulneráveis contra seu impacto devastador.