Por que Alpercata (MG) está virando uma cidade fantasma? Descubra a história por trás do esvaziamento
Alpercata, uma pequena cidade no coração do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, tem chamado atenção nos últimos anos por um fenômeno curioso e preocupante: o esvaziamento populacional acelerado. Muitos já se referem a Alpercata como uma “cidade fantasma”. Mas, afinal, por que isso está acontecendo? Quais são as histórias por trás das casas vazias, das ruas silenciosas e dos campos de futebol sem jogadores? Prepare-se para uma viagem pela história, cultura e desafios de uma cidade que luta para não desaparecer do mapa.
Alpercata: onde fica e como surgiu
Antes de mergulharmos nos motivos do esvaziamento, vale conhecer um pouco mais sobre Alpercata. Localizada a cerca de 330 km de Belo Horizonte, a cidade faz parte do Vale do Rio Doce e está bem próxima de Governador Valadares, um dos principais polos regionais. O município tem pouco menos de 7 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE.
A história de Alpercata começa no início do século XX, quando os primeiros colonizadores, como Gabriel Lopes (apelidado de “Precata” pelo seu famoso calçado de corda e lona), se fixaram na região. O desenvolvimento ganhou força a partir da década de 1940, com a construção da rodovia Rio-Bahia (atual BR-116), que trouxe progresso e novos moradores para o então povoado.
Em 1963, Alpercata conquistou sua emancipação política, tornando-se oficialmente um município.
O que faz uma cidade virar “fantasma”?
O termo “cidade fantasma” costuma ser usado para lugares que já tiveram vida pulsante, mas acabaram sendo abandonados por seus moradores. Em Alpercata, o fenômeno não é resultado de uma catástrofe natural ou de um colapso repentino, mas sim de um processo gradual de migração em massa, principalmente para os Estados Unidos.
Por que tanta gente está indo embora de Alpercata?
A resposta é uma mistura de fatores econômicos, sociais e até culturais:
- Crise econômica e falta de oportunidades: A economia local, baseada principalmente na administração pública e em pequenas atividades agropecuárias, não consegue gerar empregos suficientes para a população jovem. O fechamento de comércios, a redução de vagas em escolas e a falta de perspectivas têm empurrado muitos moradores para fora da cidade.
- Efeito da pandemia: A pandemia de COVID-19 agravou ainda mais a situação, destruindo empregos, desvalorizando a moeda e aumentando os custos de vida. Muitas famílias viram na emigração uma alternativa para sobreviver.
- Atração pelos Estados Unidos: O “sonho americano” é forte em Alpercata. Há décadas, moradores da cidade buscam uma vida melhor nos EUA. O que era uma tendência discreta virou um movimento em massa nos últimos anos, com centenas de famílias vendendo tudo para financiar a viagem.
- Rede de apoio no exterior: Quem chega aos EUA costuma ajudar parentes e amigos a fazer o mesmo caminho, criando uma rede de apoio que facilita a saída de novos moradores.
Como isso afeta a cidade?
O impacto do esvaziamento é visível em todos os cantos de Alpercata:
- Casas e comércios fechados: Muitas residências estão vazias, com placas de “vende-se” ou “aluga-se”. Lojas perderam funcionários e clientes, levando ao fechamento de portas.
- Escolas esvaziadas: Centenas de crianças foram retiradas das escolas, acompanhando os pais na mudança para o exterior.
- Serviços públicos prejudicados: Até funcionários públicos abandonaram seus cargos para tentar a sorte fora do Brasil. Isso compromete o funcionamento de serviços essenciais.
- Vida social e cultural esvaziada: Times de futebol, festas tradicionais e eventos culturais perderam participantes. O que antes era motivo de orgulho para a comunidade, agora enfrenta dificuldades para se manter.
Histórias de quem ficou e de quem partiu
Em meio a despedidas emocionadas, muitas famílias vendem tudo o que têm para bancar a viagem aos Estados Unidos. O valor pago a atravessadores pode chegar a US$ 15 mil, uma dívida que muitos só conseguem quitar após anos de trabalho duro em solo estrangeiro.
Ana Paula Souza, por exemplo, deixou Alpercata com o marido e o filho pequeno. Hoje vive em Orlando, na Flórida, onde trabalha assando bolos para complementar a renda do marido, que atua na construção civil. Ela relata a saudade da cidade natal, mas também a esperança de um futuro melhor para a família.
Para quem fica, o sentimento é de tristeza e incerteza. “Alpercata está ficando vazia. Todo mundo está indo embora”, desabafa Ana Paula.
Alpercata tem futuro?
Apesar do cenário desafiador, Alpercata ainda resiste. A cidade mantém tradições, como festas religiosas e eventos culturais, e conta com uma natureza exuberante, banhada pelo rio Doce, além de córregos e áreas verdes.
A esperança de muitos moradores é que, com a melhora da economia e a criação de novas oportunidades, as pessoas possam voltar a investir na cidade. Iniciativas para valorizar o turismo rural, resgatar a cultura local e incentivar pequenos negócios podem ajudar a reverter o quadro.
Curiosidades sobre Alpercata
- O nome “Alpercata” vem de um tipo de calçado rústico, usado por um dos primeiros moradores do povoado, Gabriel Lopes, apelidado de “Precata”.
- Antes de se chamar Alpercata, a região era conhecida como “Córrego do Esgoto” – nome que, felizmente, foi trocado a tempo da emancipação.
- A cidade faz parte de uma região marcada por resistência indígena e quilombola, com uma história rica de luta e diversidade.
Como visitar ou conhecer mais sobre Alpercata
Se você ficou curioso para conhecer Alpercata, a cidade está a apenas 20 km de Governador Valadares e tem acesso facilitado pela BR-116. Apesar dos desafios, ainda é possível encontrar belas paisagens, clima acolhedor e uma comunidade que, mesmo reduzida, mantém o orgulho de suas raízes.
Conclusão: O que podemos aprender com Alpercata?
A história de Alpercata é um retrato de muitos pequenos municípios brasileiros que enfrentam a migração em massa e o desafio de se reinventar diante das adversidades. Mais do que uma “cidade fantasma”, Alpercata é símbolo de resiliência, saudade e esperança. Quem sabe, com novas oportunidades e políticas públicas eficazes, a cidade volte a ser cheia de vida e histórias para contar.
Enquanto isso, fica o convite para conhecer, valorizar e apoiar as pequenas cidades do nosso Brasil. Afinal, cada rua vazia e cada casa fechada carrega sonhos, memórias e a vontade de um dia voltar a sorrir.
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